sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

Os sete pecados da Ferrari em 2017


Ferrari ficou abaixo das expectativas em 2017. Foto: Laszlo Balogh/Reuters.


Antes do início da temporada muito se esperava da equipe italiana. A expectativa era de que a Mercedes finalmente tivesse um rival à altura pelo título. De fato, a Ferrari deu um grande salto neste ano se comparado com 2016, no qual a equipe amargou um terceiro lugar no campeonato somando apenas 398 pontos e 11 pódios. Este ano a equipe de Maranello conquistou o vice-campeonato com 522 pontos, 20 pódios, sendo cinco deles no lugar mais alto com Sebastian Vettel.

O começo foi promissor, com o alemão vencendo a primeira corrida do ano em Melbourne, na Austrália. Além disso, Vettel ganhou três das seis primeiras provas em 2017 (Austrália, Bahrein e Mônaco) e liderou o campeonato até o Grande Prêmio da Itália, 13ª etapa do calendário. Mas com o decorrer do ano, a escuderia italiana demonstrou falta de fôlego e pecou na consistência, ponto forte da rival Mercedes. Os alemães deixaram de completar uma corrida apenas, com Bottas na Espanha, por conta de uma rara falha na unidade de potência. Já a Ferrari, teve quatro abandonos no ano, três deles por acidentes de corrida.

Abaixo segue uma lista de sete pontos em que a Ferrari deixou a desejar no ano de 2017 e que impediu a equipe de brigar de igual pra igual com a Mercedes pelos campeonatos de pilotos e construtores. 

1 Falta de confiabilidade em momentos cruciais

Kimi Raikkonen abandonou antes da largada do GP da Malásia. Foto: AutoSport.

Confiabilidade é palavra que mais se encaixa no vocabulário da Mercedes nesta temporada e um aspecto fundamental para uma equipe que almeja títulos. Analisando a temporada, apenas em uma ocasião a Ferrari abandonou a corrida com problemas. No Japão, Sebastian Vettel abandonou a prova logo no início por conta de uma falha de vela de ignição, fato que deixou o alemão mais distante do sonho de ser campeão, com Hamilton abrindo 49 pontos de vantagem faltando apenas quatro etapas para o fim da temporada. 

Na etapa anterior, na Malásia, Vettel sequer passou do Q1 por problemas no turbo e largou em último. Apesar de ter terminado em um ótimo quarto lugar, o alemão teria grande chance de vencer a corrida, já que a Mercedes não fez uma boa prova, com Hamilton terminando em segundo e a vitória ficando com Max Verstappen, da RBR. Pior do que a situação de Vettel foi o problema no motor de Kimi Raikkonen logo que saiu dos boxes. O finlandês sequer conseguiu largar em Sepang. 

2 (Mais uma) temporada morna do Homem de Gelo

O finlandês demonstrou mais uma vez que está um nível abaixo de seu companheiro de equipe e pouco fez durante a temporada. Quando o assunto são as largadas, Raikkonen foi batido facilmente por Vettel, largando atrás do alemão em 15 das 20 corridas da temporada. Além disso, o Homem de Gelo terminou o campeonato na quarta colocação, com 205 pontos contra os 317 de seu colega.

Para escancarar ainda mais a diferença entre os dois, Kimi obteve apenas dois segundos lugares como melhor resultado (Mônaco e Hungria), enquanto Sebastian conquistou as cinco vitórias da Ferrari no ano. Comparando os números com o outro finlandês do grid, o campeão de 2007 fez 100 pontos a menos do que Valtteri Bottas, da Mercedes, e ficou uma posição abaixo na tabela.

3 O emocional de Sebastian Vettel 


Acidente em Cingapura arruinou as chances de título de Vettel. Foto: AP Photo/Yong Teck Lim
A temporada terminou com um sabor amargo para o tetracampeão, que liderou o campeonato durante 12 provas e só foi perder o posto, de maneira irônica, no Grande Prêmio da Itália. Que a Mercedes teve um carro superior levando em conta toda a temporada, não há dúvidas, mas Sebastian não teve controle emocional em momentos do campeonato que lhe custaram pontos preciosos. O primeiro episódio ocorreu no incrível (e maluco) Grande Prêmio do Azerbaijão. Irritado com a freada brusca de Lewis Hamilton quando o safety car estava na pista, Vettel jogou sua Ferrari deliberadamente pra cima da Mercedes de Hamilton. Punido, o alemão terminou a prova em quarto, uma posição acima do inglês, quando poderia facilmente ter vencido. 

Em Cingapura tudo corria muito bem para Vettel até a largada. Com a pole position conquistada no sábado e com as Mercedes largando na terceira fila, o alemão tinha tudo para fazer uma prova tranquila, já que as características da pista favoreciam o carro dos italianos. Na ânsia de fechar Max Verstappen, que largou bem em segundo, o alemão provocou um acidente que tirou os dois da prova, além de seu companheiro de equipe, Kimi Raikkonen. A vitória caiu no colo de Lewis Hamilton e Valtteri Bottas completou o pódio em terceiro. Um desastre para a Ferrari e para Vettel, que começou a perder o campeonato naquela corrida.

4 Classificações


Vettel fez a pole position no GP da Hungria. Foto: Aandrej Isakovic / AFP
Largar na frente dos rivais com regularidade é imprescindível para uma disputa de campeonato, principalmente quando o adversário tem a consistência e a confiabilidade como pontos fortes. Ficou claro nesta temporada que a Ferrari se comportava melhor em ritmo de corrida do que em voltas lançadas. Os italianos fizeram apenas cinco poles durante o ano (4 de Vettel e 1 de Raikkonen) contra 15 dos alemães (11 de Hamilton e 4 de Bottas). Ou seja, o principal piloto ferrarista teve o mesmo número de poles do segundo piloto da Mercedes. É muito pouco para uma equipe que deseja conquistar a primeira colocação do campeonato mundial.

Um fato importante a se ressaltar, todas as poles da equipe foram anotadas em circuitos de baixa e média velocidade, onde o carro da Ferrari geralmente se saiu melhor também nas corridas: Rússia, Mônaco, Hungria, Cingapura e México.

5 Baixo desempenho em pistas de alta velocidade

Como destacado no ponto anterior, os melhores resultados de largada da equipe italiana foram conseguidos em pistas com velocidades baixas e médias. O carro da Ferrari não teve um desempenho à altura da Mercedes nas pistas rápidas. Analisando as cinco vitórias de Vettel no ano, com exceção do Bahrein, quatro delas foram em circuitos com baixas médias de velocidade: Austrália, Mônaco, Hungria e Brasil. Esse será um ponto em que os engenheiros da Ferrari terão de trabalhar para o próximo ano se o time quiser desbancar a Mercedes no campeonato.

6 Queda de produção durante a temporada

A Ferrari começou a temporada de 2017 surpreendendo, com Vettel ganhando três das primeiras seis provas do ano, inclusive a corrida de abertura, na Austrália. No entanto, a escuderia italiana perdeu a consistência do início do campeonato logo após a dobradinha de Mônaco. Antes da vitória seguinte de Vettel na Hungria, foram disputadas quatro provas: Canadá, Azerbaijão, Áustria e Grã-Bretanha. Nesse período, o melhor resultado da Ferrari foi um segundo lugar do alemão na Áustria. 

Outro período difícil para os italianos na temporada foi nas etapas de Cingapura, Malásia e Japão. Essas corridas foram definitivas para que Sebastian Vettel perdesse Lewis Hamilton de vista no campeonato. O alemão abandonou em Cingapura e no Japão, além de ter conquistado apenas um quarto lugar na Malásia. Ao passo que Lewis Hamilton venceu em Cingapura e no Japão, além de ter sido segundo na Malásia. Já Kimi Raikkonen abandonou em Cingapura, sequer largou na Malásia e terminou em quinto no Japão. 

7 Falta de experiência do corpo técnico


O diretor técnico da Ferrari, Mattia Binotto. Foto: Marco Canoniero/LightRocket via Getty Images
Com a saída de James Allisson (hoje na Mercedes) no ano passado, o presidente da Ferrari, Sergio Marchionne, elegeu Mattia Binotto para assumir a direção técnica da equipe neste ano. Antes responsável pela parte administrativa dos motores, Binotto não tinha experiência na Fórmula 1 como diretor, assim como outros profissionais que ocuparam cargos importantes na área técnica da equipe como Simone Resta (projetista chefe) e Enrico Cardille (aerodinâmica).

O SF70H deste ano foi um projeto iniciado por Allison e Dirk de Beer, hoje chefe de aerodinâmica da Williams. Por isso houve o espanto quanto ao bom desempenho da Ferrari na pré-temporada. Mas com o decorrer do campeonato, os engenheiros italianos inexperientes na Fórmula 1 não souberam potencializar as características do projeto original.

Esses foram alguns dos principais pontos em que a Ferrari falhou durante a temporada. Em 2018, mais do que nunca, a palavra-chave deverá ser confiabilidade, já que o limite de motores permitido por carro será de apenas três. Após isso, a troca de componentes acarretará em punições. Além de construir um carro rápido, a equipe precisa analisar com muita atenção os erros cometidos para minimizá-los no próximo ano e poder brigar com a Mercedes.